Revolucionário é ganhar dinheiro
Por Diogo Mainardi
Se não fosse por dinheiro, eu não escreveria. Não confio em quem escreve de graça. Escrever é um trabalho aborrecido como outro qualquer. Ninguém trabalha de graça no Rei do Mate. Ninguém trabalha de graça na Drogaria Pacheco. Então só um desequilibrado quereria escrever de graça. Se não me pagassem para escrever, eu agora estaria na frente da televisão, vendo uma luta do Minotouro ou um torneio de bilhar. Passar o dia todo na frente da televisão é melhor do que escrever.
A relação dos brasileiros com o dinheiro sempre foi muito atrapalhada. A eleição de Lula ajudou a embaralhar nossa cabeça. Pegue, por exemplo, essa última viagem do presidente à Venezuela. No fim do encontro, Lula e Hugo Chávez declararam que o comércio com os países da América do Sul é mais importante do que com Estados Unidos ou Europa, "mesmo que custe mais caro". Na opinião deles, o ruim e o caro são preferíveis ao bom e ao barato. Países cujos líderes defendem a utilidade de perder dinheiro só podem ir para o buraco. Aparentemente, Chávez demonstrou seu espírito de sacrifício comprando caças-bombardeiros brasileiros por 300 milhões de dólares. Agora Lula tem a obrigação de fazer o seguinte: pegar o telefone, ligar para o presidente da França, Jacques Chirac, e comunicar-lhe quanto desse dinheiro será destinado para combater a fome na Etiópia. Não foi o próprio Lula quem lançou a idéia de taxar o comércio internacional de armas para criar um Fome Zero planetário?
Se Lula tem o Fome Zero, os novos chefes do Legislativo, Renan Calheiros e Severino Cavalcanti, não ficam muito atrás. O primeiro criou o Criança Cidadã, um programa assistencial para atender a juventude da Zona da Mata alagoana. O segundo é autor do Mãe Crecheira, um programa assistencial que beneficia mães carentes com filhos menores de 6 anos. Os comentaristas políticos deram atenção exagerada à derrota do governo na Câmara, esquecendo de mencionar o dado mais significativo: a grande satisfação lulista pelo triunfo de Renan Calheiros, seu candidato no Senado. Trata-se do mesmo Renan Calheiros que, até pouco tempo atrás, era definido pelo PT como um político "que tenta posar de democrata, mas só caiu fora do governo Collor quando o barco já estava afundando, porque não recebeu tudo o que queria do esquema PC".
O fato é que Lula, Severino Cavalcanti e Renan Calheiros são iguais e se entendem. Representam um tipo de sociedade falimentar em que o valor do trabalho foi subvertido. Uma sociedade que dá esmola ao pobre, subsídio ao rico, cargo ao correligionário, emprego ao parente, reserva de mercado ao industrial, informação privilegiada ao político, impunidade ao corrupto, aposentadoria a quem não contribui, financiamento a fundo perdido ao artista, terra ao grileiro, liberdade ao escravista. Repito o que já disse em outro lugar: revolucionário, no Brasil, é ganhar dinheiro sem falcatruas. Quanto mais, melhor.