jueves, 12 de mayo de 2005

Talabani põe Chávez em seu lugar, de novo

Presidente do Iraque afirma que terrorismo "perde força"
da Folha de S.Paulo
O presidente do Iraque, Jalal Talabani, não reconhece a legitimidade de nenhum ato de violência cometido no país desde que os Estados Unidos derrubaram o ditador Saddam Hussein. Para ele, não há resistência legítima no país, mas apenas terrorismo.Cordial, o curdo Talabani, de 73 anos, disse à Folha que o Iraque já conta com os fundamentos de uma democracia plena e que a eleição realizada no país em janeiro é o ponto de partida para a democratização do Oriente Médio.

Folha - O sr. declarou na véspera de embarcar para o Brasil que a maioria dos atos terroristas hoje no Iraque é planejada e financiada no exterior, presumivelmente nos países vizinhos. O assunto foi discutido com esses países na cúpula?

Jalal Talabani - Não mencionei nenhum país especificamente, mas disse que a maioria desses terroristas vem do exterior. Integrantes de grupos que atuam no país, como Al Qaeda, Ansar al-Suna e Ansar al-Islam são treinados e financiados no exterior. Tive o cuidado de não mencionar nenhum país porque queremos resolver esse problema com nossos vizinhos em conversas privadas, não na mídia. O que fiz em Brasília foi um apelo à mídia árabe, que indiretamente apóia o terrorismo. Esses grupos, que matam civis, pessoas inocentes, são mostrados na mídia árabe como heróis da resistência e isso encoraja o crime. Conversei com o príncipe da Jordânia e o premiê da Síria e dos dois recebi promessas de que vão parar com a propaganda.
Folha - Na cúpula houve algumas críticas bastante duras contra os EUA, que mantêm mais de 100 mil soldados no seu país. Em algum momento o sr. se sentiu isolado?

Talabani - Não, nem um pouco. Chávez tem suas próprias dificuldades com os EUA e pode falar o que quiser. Mas ele cometeu um erro quando falou sobre o Iraque. Há uma diferença entre ocupação e presença de forças estrangeiras. Há forças estrangeiras em muitos países, como Japão, Alemanha, Coréia, Qatar, Arábia. Isso não quer dizer que eles estejam sob ocupação. A presença de forças estrangeiras no Iraque foi aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU. Chamei Chávez para tomar um café e ele entendeu a diferença. Depois me abraçou, me beijou e disse que apóia nossa luta.

Folha - O sr. acha que há uma contradição na declaração da cúpula, que condena o terrorismo, mas apóia a resistência à ocupação?

Talabani - Não. O terrorismo é condenável, mas há resistências que são reconhecidas internacionalmente. Há diferenças entre terrorismo e movimentos de resistência que lutam para libertar um país ou para implantar a democracia e respeitam as leis de guerra. Os terroristas que cometem cegamente atos que matam civis e destroem o patrimônio nacional.

Folha - Há no Iraque hoje alguma resistência legítima?

Talabani - Não. Há dois tipos de terrorismo. Aquele que vem de fora, como o da Al Qaeda e outros grupos, que são contra a democracia, defendem um Estado islâmico ou outra causa qualquer. E há os terroristas iraquianos, que acreditam estar lutando contra os americanos, quando, na verdade, estão matando iraquianos inocentes. Na Palestina há resistência legítima. No Iraque, não.

Folha - Desde a posse do novo governo, cerca de 300 pessoas já morreram em ataques no Iraque.

Talabani - Essa onda de violência é um sinal de fraqueza desses terroristas. Se você notar, vai ver que o único recurso que lhes restou são os carros-bomba. Eles perderam o controle de várias cidades e estão sendo cercados. Mas não é fácil evitar um ataque suicida.

Folha - Tem alguma informação sobre o engenheiro brasileiro João José Vasconcellos Jr., seqüestrado há mais de três meses no Iraque?

Talabani - Só ouvi falar desse caso no Brasil. Ontem o governo brasileiro me pediu ajuda. Disse que faria o possível para ajudar.