viernes, 5 de marzo de 2004

Chavez em mais uma "cadeia" de Rádio e TV

Para o estrangeiro, o termo "cadeia de Rádio e TV" pode parecer estranho. Imaginem por um momento, por exemplo, que o presidente Lula quisesse falar de qualquer coisa que lhe vier à cabeça durante horas a fio, em rede nacional de radio e televisão. Qual seria a reação da mídia brasileira? Tá certo, convenhamos que qualquer presidente pode forçar emissoras de rádio e TV a transmitir uma mensagem - realmente - importante para o país. Mas e se Lula, por exemplo, convocasse uma cadeia (o termo venezuelano é "cadena") para transmitir um discurso político, no final de uma passeata de simpatizantes do PT? E se ele, no meio da transmissão, começasse a cantar, contar histórias de sua infância no sertão pernambucano, ofendesse presidentes de outros países (chamando-os de babacas e afins), atacasse adversários políticos, gritasse aos quatro ventos que ele têm culhões, e que, CARALHO! (assim mesmo), não vai permitir uma invasão dos Estados Unidos no Brasil? E se, a corrente do Lula impedisse você de assistir um jogo do seu time de coração?

Pois é, isso mesmo é o que Hugo Chavez vem fazendo na Venezuela. Ele convocou uma cadeia em Abril de 2002, enquanto cidadãos eram massacrados nas ruas do país, para que as redes de televisão não transmitissem os acontecimentos. As redes não tiveram outra escolha senão dividir a tela (a única vez que fizeram isso). Desde o começo de seu (des)governo, Chavez têm usado as correntes dezenas de vezes, em ocasiões por mais de cinco horas, para falar de bobagens e para incendiar o ambiente político da Venezuela.

Neste momento, ele está em mais uma cadeia, com os diplomatas estrangeiros, contando o seu lado da história sobre os últimos acontecimentos, que incluem violações aos direitos humanos, assassinatos políticos, agressões, intimidações, etc., contra manifestantes que têm ido às ruas pedindo um REFERENDO (não a renúncia) para votar se Chavez deve ficar no poder até 2007 ou não. Devo destacar que o referendo está previsto na constituição venezuelana, mas o CNE (o TSE daqui), dominado por três chavistas, têm negado esse direito aos venezuelanos, mesmo depois de terem sido cumpridos todos os requisitos previstos na lei. Este é o único país em que a oposição "golpista" pede uma votação, e o governo "democrático" não quer saber nada dela. Este é o único país em que o governo acusa a oposição de cometer uma fraude eleitoral (que é chamado por eles de "golpe eleitoral). Quando, na história, você soube de uma oposição capaz de cometer fraude eleitoral?

Ontem mesmo, assiti na televisão um vídeo amador, em que aparecem três policiais do estado Táchira (onde o governador é chavista), batendo com seus próprios capacetes na cabeça de dois rapazes, enquanto estes estavam no chão. Este é apenas um dos exemplos.

O que a opinião pública internacional têm de botar na cabeça é que, mesmo Chavez tendo sido eleito, o governo dele não é democrático em seu exercício. Vocês sabiam que o funcionário público (de carreira) que não decalarar apoio a Chavez, é automáticamente demitido? E que se este funcionário assinou o pedido de referendo revogatório contra Chavez, sai mais rápido ainda?

Enquanto escrevo, Chavez continua com a cadeia. Acaba de reclamar que um canal de TV desrespeitou um presidente estrangeiro, Robert Mugabe (o presidente do Zimbábue, acusado de inúmeras violações aos direitos humanos), mas certamente não fala do seu próprio discurso de domingo passado, quando chamou George Bush de babaca. O presidente dos Estados Unidos pode até ser um babaca, mas é assim que um chefe de estado deve se comportar? Chavez acaba de dizer, na corrente, que se ele achar que os canais de TV devem ser fechados, não hesitará em fazê-lo. Me digam se este é um governante democrático.

Vou apagar o rádio, não agüento mais tanta hipocrisia.