martes, 11 de marzo de 2008

Veja: Bajo el dominio de las Farc

La mayor revista semanal brasileña, Veja, trae un reportaje sobre la situación de la población en los estados Zulia, Táchira y Apure, completamente dominados por los narco-terroristas de las farc y sus compinches de la Guardia Nacional y el ejército venezolanos:

Sob o domínio das Farc

Ao dar guarida aos terroristas, Chávez expôs
os venezuelanos a seqüestros e assassinatos


Duda Teixeira, de San Cristóbal, Venezuela

Anderson Schneider/WPN
CRIME DE EXPORTAÇÃO
Militar revista porta-malas de carro que entra na Venezuela por San Antonio del Táchira: comércio bloqueado e guerrilha com livre acesso

Perseguidos pelo Exército colombiano, os terroristas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão sendo recebidos de braços abertos na Venezuela. No país vizinho, ganham o status de força beligerante, e a morte de um de seus chefes mereceu até um minuto de silêncio, homenagem prestada pelo presidente da nação diante das câmeras de televisão. Nos últimos nove anos, período que coincide com o mandato de Hugo Chávez no Palácio Miraflores, bandos armados cruzaram a fronteira levando na bagagem seu programa político: extorsões, seqüestros e assassinatos. Três estados venezuelanos que fazem fronteira com a Colômbia estão infestados de narcoterroristas. O fluxo de criminosos colocou os dois países vizinhos em cenários opostos. Enquanto os colombianos aguardam ansiosamente o momento de sair de um pesadelo, os venezuelanos vivem os primeiros momentos de uma guerra não declarada, sem prazo para terminar.

As principais vítimas das levas de terroristas são pequenos comerciantes, sitiantes, estudantes e taxistas venezuelanos. A população da cidade de Rubio, no estado de Táchira, está totalmente sitiada. Com cerca de 120 000 habitantes, recebeu seis anos atrás a visita de dois hóspedes indesejados: um é o Exército de Libertação Nacional (ELN), organização colombiana similar às Farc, só que com menor número de homens armados. Outro são os pistoleiros de uma milícia de paramilitares criada exatamente para proteger os cidadãos dos guerrilheiros comunistas na Colômbia e que acabou por adotar as táticas criminosas de seus inimigos. Ao chegarem à pequena cidade, os dois bandos optaram por não entrar em choque. Ambos instalaram-se em morros à distância de um tiro um do outro, e com vista para o município. Fraternalmente, decidiram que o ELN iria achacar os agricultores e outros moradores da zona rural e os paramilitares limitariam sua rapina à população urbana. Seqüestros imediatamente entraram na rotina dos venezuelanos. "Os bandos mudaram a cidade da noite para o dia. Amanhecemos com corpos nas ruas e o assassino não tem mais rosto", disse a VEJA o veterinário Porfírio Dávila, de 38 anos. Em 2003, seu pai, um pequeno produtor rural, foi seqüestrado ao estacionar o jipe em frente a seu sítio, vizinho ao morro dominado pelo ELN. Dávila passou a receber ligações de pessoas com sotaque colombiano pedindo um resgate equivalente a 500 000 reais pela libertação de seu pai. Respondeu que sua família não tinha quantia tão alta. As chamadas cessaram depois de um mês e meio. "Eles libertam os ricos que pagam o resgate e não hesitam em matar os pobres que não podem pagar o que pedem", diz Dávila, que mantém as esperanças de reencontrar seu pai.


Anderson Schneider/WPN
SEM AMPARO
O oficial de Justiça Juan Pabón teve a mãe e o irmão seqüestrados pela própria polícia venezuelana: "Chávez recebe os familiares dos seqüestrados colombianos no hotel Gran Meliá, em Caracas. Nós não conseguimos sequer conversar com ele pelo telefone"

Outra forma de os pistoleiros ganharem dinheiro é a extorsão. No estado de Táchira, todos estão familiarizados com a "vacina", que consiste no pagamento de uma taxa mensal para não ser incomodado pelos criminosos. Taxistas dão cerca de 10 reais por mês, o equivalente a uma corrida. Com comerciantes, as negociações sobre o preço a ser pago começam no equivalente a 1 300 reais. "Um homem armado e de óculos escuros entrou na loja, chamou-me pelo nome, disse onde estudavam meus três filhos e me convidou para um encontro", contou a VEJA o dono de uma loja de roupas, que pediu para ser identificado apenas como Gamboa. Na reunião que se seguiu em um sítio, ele recebeu uma carta assinada pelo chefe paramilitar colombiano Carlos Castanho em que ele agradecia formalmente a colaboração para a causa do grupo. O valor foi fechado em 500 reais mensais. Todo mês, há três anos, Gamboa ganha um envelope contendo um endereço e um horário. Vai até o local e entrega o dinheiro para um desconhecido.

O lucrativo contrabando de gasolina na fronteira também se tornou fonte de renda para os paramilitares. Em San Antonio del Táchira, cidade na fronteira entre os dois países, 1 litro de gasolina custa 100 bolívares. De tanque cheio, motoristas atravessam a fronteira e estacionam seus carros a apenas 500 metros da alfândega colombiana. Ali, a gasolina é transferida para galões vazios enfileirados na calçada ao preço de 1 500 bolívares por litro. Cada veículo faz entre quatro e cinco viagens por dia. Como tal comércio é proibido, a Guarda Nacional venezuelana cobra uma propina fixa para deixar passar. O alto faturamento dos subornos atraiu os paramilitares colombianos, que montaram com a Guarda Nacional um esquema profissional com senha e pagamento antecipado.


Anderson Schneider/WPN
VIZINHO DO ELN
O veterinário Porfírio Dávila teve o pai seqüestrado em 2003 no sítio que fica ao lado de uma montanha dominada pelos terroristas colombianos do Exército de Libertação Nacional (ELN). Há seis anos, a cidade de Rubio foi dividida entre bandidos comunistas e paramilitares

Ao migrarem para a Venezuela, os terroristas comunistas ganharam contornos um pouco diferentes. Além das organizações que atuavam na Colômbia, surgiram dissidências e novos grupos. "Os colombianos recrutaram muitos delinqüentes venezuelanos, aos quais ensinaram métodos que não eram conhecidos aqui, como o seqüestro", disse a VEJA a geógrafa Mayra Medina, da Universidade Pedagógica Experimental Libertador, em Rubio. A organização criminosa mais numerosa atualmente na Venezuela não foi importada. Trata-se da Frente Bolivariana de Liberação (FBL). Com 1 500 militantes armados, exalta Simon Bolívar e tem por finalidade dar respaldo a Hugo Chávez. Com esse objetivo, recruta menores e indígenas na Venezuela, no Equador e – como dizem seus membros com orgulho – também no Brasil. Sua marca registrada é um grafite vermelho nas paredes das casas com a frase "FBL. Aliste-se" e a imagem de um fuzil.

"As Farc e o ELN não são grupos terroristas. São verdadeiros exércitos", disse Hugo Chávez na Assembléia Nacional, em Caracas. "São forças insurgentes que têm um projeto político, bolivariano, que aqui é respeitado." A chancela presidencial aos terroristas deixa ao desamparo as vítimas venezuelanas do conflito no país vizinho. Após ser achacado pela primeira vez, o comerciante Gamboa procurou a polícia local. Ouviu como resposta que, se ele quisesse, os policiais poderiam atacar de surpresa o acampamento dos paramilitares. Contudo, salientaram que, dada a elevada presença de terroristas em toda a região, isso não lhe garantiria nenhuma segurança. "Com o presidente que temos, não há outra coisa a fazer senão se resignar", diz Gamboa.

No estado de Apure, ao sul de Táchira, o assunto Farc é praticamente proibido. "Ninguém pode dizer nem fazer nada", disse a VEJA Acacio Belandria, padre jesuíta da Igreja de San Camilo de Lelis, na cidade de El Nula. "Muitos agricultores preferem abandonar suas terras a tentar mudar a situação." Belandria já teve dois primos seqüestrados pelas Farc e é um dos poucos a criticar abertamente os guerrilheiros. Em El Nula, o controle social exercido pelos terroristas é tão intenso que seus membros chegam a entrar nas escolas para repreender professores cujas lições não estejam de acordo com a doutrina marxista. O padre Belandria escreveu um relatório sobre o banditismo na sua região e o enviou à Presidência da República pedindo providências. Não recebeu resposta alguma.

O oficial de Justiça Juan Pabón também reclama da falta de atenção do governo de Hugo Chávez. "Quando pedimos justiça, somos tachados pelas autoridades do governo chavista de oligarcas ou traidores da pátria." Pabón teve a mãe e o irmão seqüestrados pelo Grupo de Antiextorsão e Seqüestro da Guarda Nacional venezuelana. Em 2003, durante uma operação para localizar o cativeiro de três pecuaristas seqüestrados, agentes dessa força policial invadiram o sítio da mãe de Juan Pabón. Ela foi levada junto com um dos filhos, um amigo e todo o dinheiro que havia na casa. Quinze dias depois, o oficial de Justiça começou a receber ligações pedindo o equivalente a 800 000 reais. Atualmente, os nomes de seus parentes e de seu amigo aparecem todos os dias numa lista com 24 nomes publicada no jornal La Nación, da cidade de San Cristóbal. Pabón e o veterinário Dávila participam da Fundação por uma Venezuela Livre de Seqüestros, uma organização não governamental criada para tentar forçar as autoridades venezuelanas a ajudar as vítimas, e não, como ocorre, apenas os criminosos. "Chávez recebe os familiares dos seqüestrados colombianos no hotel Gran Meliá, em Caracas. Nós não conseguimos sequer conversar com ele por telefone", diz Pabón.